Com a queda da taxa SELIC para 6,40%, os investimentos em fundos de investimentos que investem em títulos públicos federais tiveram suas rentabilidades reduzidas. O RPPS pode se perguntar se as aplicações nestes tipos de fundos de investimentos continuam sendo boas escolhas ou não. Neste artigo, esclareceremos dois pontos importantes para esta análise: Rentabilidade Real e Taxa de Juros.
Rentabilidade Nominal e Rentabilidade Real
A rentabilidade nominal é a que aparece no papel: o índice que demonstra o quanto o investimento aumentou ou diminuiu em um determinado período de tempo. Já a rentabilidade real é a rentabilidade nominal quando levada em conta a inflação. A rentabilidade real mede o acréscimo/decréscimo no poder de compra do investidor.
Vamos utilizar o título Tesouro Selic (LFT) para esta análise. Em 2016, a SELIC variou de 14,15% para 13,65%. Em 2017, de 13,65% para 6,90%. As rentabilidades nominais, calculadas pelo IMA-S, foram de 13,84% e 10,16%, respectivamente. Porém, levando em conta a inflação (IPCA de 6,29% em 2016 e de 2,95% em 2017) e calculando a rentabilidade real, os números são de 7,1% e 7,0%, respectivamente. Ou seja, um instituto que aplicou inteiramente em Tesouro SELIC nestes dois anos obteve praticamente o mesmo incremento na sua capacidade de poder de compra (rentabilidade real) nos dois anos, apesar das rentabilidades nominais terem sido diferentes.
A meta atuarial dos institutos sempre leva em conta algum índice de inflação (IPCA ou INPC) justamente por este motivo: para garantir que a rentabilidade real buscada pelo RPPS seja positiva, tornando as finanças do instituto cada vez mais saudáveis.
Taxas de Juros
Uma taxa de juros é uma taxa prometida de retorno em um investimento. A taxa de juros pode ser nominal ou real (conforme visto acima). Ainda, pode-se calcular a taxa de juros efetiva, que leva em conta os gastos com a transação financeira (taxas de corretagem, emolumentos, etc.).
A taxa de juros mais conhecida no mercado brasileiro é a taxa SELIC. Esta é a taxa média calculada baseando-se nos financiamentos diários do SELIC, o Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, para títulos públicos federais. O COPOM (Comitê de Política Monetária) se reúne a cada 45 dias, em sessões ordinárias às terças e quartas-feiras, para definir a meta da taxa SELIC.
A taxa SELIC é utilizada como referência para todas as outras taxas de juros. Quando a SELIC, as rentabilidades dos títulos públicos aumentam. Isso faz com que as aplicações em TPF se tornem mais atraentes e, como a segurança garantida nas aplicações do Tesouro é a melhor que existe no Brasil, reduz-se, também, o interesse dos agentes econômicos em investir em aplicações mais arriscadas (como investir no próprio negócio via crédito bancário, bolsa, imóveis, etc.).
Quando o governo quer frear a economia, uma de suas políticas pode ser a de aumento da taxa SELIC. Com o aumento da taxa, os agentes econômicos tenderão a consumir e investir menos e poupar mais. Se o governo quiser acelera a economia, pode-se diminuir a taxa SELIC (exatamente como está acontecendo agora no governo Michel Temer). Dessa forma, os agentes tendem a consumir e investir mais, aumentando o nível econômico do país.
Como a rentabilidade dos investimentos está ligada à taxa de juros?
Para os fundos de renda fixa que compõem a maior parte dos fundos investidos por Regimes Próprios, a composição de suas carteiras é baseada em títulos públicos federais. Dessa forma, como mostrado acima, a taxa SELIC está inteiramente ligada às suas rentabilidades.
O Brasil era o “país da renda fixa” em 2016 e 2017. Não fazia muito sentido investir em aplicações mais arriscadas, pois a renda fixa estava devolvendo 7% de rentabilidade real ao ano no seu investimento mais seguro (Tesouro SELIC). Em 2018, com a SELIC mais baixa e a inflação controlada, a renda fixa perdeu um pouco de sua rentabilidade.
Podemos fazer uma aproximação da rentabilidade do Tesouro SELIC para 2018. Segundo o Boletim Focus de 29/03/2018, a expectativa do mercado para o IPCA em 2018 é de 3,54% e a expectativa para a SELIC no final do ano é de 6,25% (praticamente igual a atual, de 6,40%). Utilizando esses dados, chegamos a estimativa de rentabilidade real de aproximadamente 2,6%, bem inferior aos 7% devolvidos em 2016 e 2017.
Como posso melhorar minha rentabilidade real em tempos de SELIC baixa?
Para aumentar a rentabilidade real, é necessária uma posição mais agressiva na carteira de investimentos. Essa posição pode ser alcançada com títulos públicos com maior volatilidade, porém que paguem acima do Tesouro SELIC: NTN-B, LFT, NTN-F. Abrir a carteira para renda variável também pode ser uma saída, mas sempre com cautela: o risco envolvido na renda variável é bem maior que nos fundos de renda fixa.
Uma outra boa opção é o corte de gastos. Investir diretamente em títulos públicos federais isentam o RPPS das taxas de administração de fundos de investimentos. No lugar, os institutos pagam uma baixa taxa de custódia para um agente regulamentado.